segunda-feira, 21 de março de 2011

Um último momento


Depois, de termos vividos aquele grande momento juntos dentro de seu sonho, lembrei de meu propósito que estava esquecido quase totalmente. Havia tempo que eu não fazia uma pessoa se sentir tão bem, tão feliz, quanto naquele momento. Levei-a para o lugar que ela mais gostava de visitar. O sol estava quente e eu sabia que seria bom para ela ter essa sensação de sentir o calor do sol novamente, depois de tantos séculos sem senti-lo. E soube certo. Os cavalos estavam pastando ao nosso redor, era um belo dia. O desejo inevitável que existe dentro de nós na realidade, não estava conosco naquele momento. Isso é o que há de bom em um sonho: posso perder a pior parte que me habita.
O calor, o sol, os cavalos, ela e eu. Aquela seria a sua última cena que seus olhos filmariam. Queria que fosse perfeita.
Quando estávamos perto de começar uma corrida (ela ainda estava contando de um até três) voltei a minha mente para a realidade. Encontrei seu corpo em meus braços, seus olhos estavam fechados, sua mente estava viajando pelo o seu sonho, estava em pleno subconsciente. Relembrei de toda a dor que seu corpo sentia ao acordar. Lembrei do quanto essa dor também me machucava, mesmo não estando em mim.
A decisão foi feita. Faria contra a minha vontade, não poderia deixar de fazer. Não poderia deixá-la vivendo em toda aquela dor, aquele sofrimento, abandono, sede, fúria, alucinação e tristeza. Passei a mão pelo o seu rosto, mais uma vez, pela última vez. Desejei (talvez em vão) que seu destino fosse diferente dos que costumam ser como nós. Ela merece que seja assim. Então, segurei a estaca com força e enfiei-a no seu coração. Fiz o movimento rápido, antes que iniciássemos a sua aposta na corrida. Ela ganharia, tenho certeza. 
Três segundos. Tudo aconteceu antes de três segundos.
Vi seu rosto empalidecer rapidamente, seus lábios foram perdendo a cor e aquele rosto nem, ao menos, parecia ser um rosto. Encostei meu queixo no seu cabelo e fiquei ali, perdido, deixando que as lágrimas caíssem sem que ninguém me recriminasse.
E esse foi mais uma partida que ocorreu na minha vida, só que pior, porque, de certa forma, eu também a tinha provocado. Foi mais dolorosa do que qualquer outra partida. 
Essa noite passaria extremamente devagar. Eu continuaria ao seu lado, segurando seu corpo como se você ainda estivesse ali, comigo. Embriagar-me-ia com a dor. Eu não deixaria que aquela cena, aquele último momento que “vivemos” juntos cair em esquecimento. Ela nunca cairia no esquecimento. 

Texto baseado num acontecimento do décimo terceiro episódio da segunda temporada da série O Diário do Vampiro.

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