domingo, 12 de fevereiro de 2012

Labialmente, disse-as.

Veio correndo até a mim. Sorriu sem jeito ao chegar perto donde queria chegar, sorri de volta.
- Posso falar contigo?
- Claro.
- Bem...
- Sim?
- Então...
- Diga.
- O que você...
- O que eu...?
-  Esquece. Mas, e...
- Continue.
- Só um minuto.
- Tudo bem.
Ele atendeu o telefone, dei as costas para mim, continuei a organizar as flores de minha loja até que encerrasse a ligação.
- Pronto. Aonde estávamos?
- Você ia começar a falar sobre...
- Sobre o que?
- Não sei, não terminou de falar.
- Ora, você sabe, diga-me.
- Se você tivesse falado, eu saberia.
- Já devo ter falado... Como não falei?
- Tentou, somente.
- Então, continuemos.
- Ande logo, está me deixando ansiosa.
- Desculpe.
- Sem mais delongas, sem mais rodeios, diga. Qual dificuldade há em falar?
- Nenhuma, nenhuma. - Toda dificuldade do mundo, na verdade-, ele pensou.
Ela torceu a boca, ficou a fitar os pássaros que cantavam numa árvore próxima de nós naquele dia lindo de céu azul ensolarado.
- Eles sempre deixam o dia mais lindo, mais alegre com essa cantoria que traz, a minha alma, felicidade.
- Sem dúvidas, sem dúvidas. Deixam o sol mais brilhante, sem que o calor aumente, e o céu mais azul.
- Concordo. Mas, voltando ao assunto...
- Ah, sim. Continue o que iria dizer.
- Adeus.
- Adeus? Adeus?!
E, então, partiu e deixou comigo somente essa palavra final e o comentário sobre os pássaros, que continuavam cantando. O que ela (a palavra) queria dizer? O que ele queria dizer? Parecia nervoso, tímido, não sei. Um enigma feito por uma conversa incompleta que possuia apenas um começo mal começado. "Criança, volte aqui.", eu quis dizer.
Minha dúvidas ficaram no ar. Voltei a cuidar das flores, pensativa, e assim eu ficaria ao longo de todo o dia. Fiquei imaginando o quanto éramos juntos, amigos e o que seria de mim se aquele dez realmente fosse uma despedida. Meu coração doeu, choramingou baixinho, se apertou e eu senti o que ele queria dizer. No começo, duvidei do que parecia ser mas o coração insistiu, se empenhou em me mostrar a verdade através das portas que havia dentro de mim. Todas se abriram uma após a outra. E, num segundo depois, paralisei. Tudo estava claríssimo agora.
Sem demorar muito, ele reapareceu. Dessa vez, tinha o sorriso mais aberto e o olhar estava mais maduro, encarava-me com ternura. Deixei as plantas novamente, simplesmente fui incapaz de desviar-me daquele olhar, até que ele me alcançasse novamente. Senti-me presa e paralisada. Os segundos passaram rápidos apesar dos passos longos que demoraram para me alcançar. Logo, senti um toque no meu rosto, aqueles olhos agora estavam bem próximos dos meus. Puxando meu braço, nos aproximamos ainda mais e, então, tascou-me um beijo. Senti toda a doçura daqueles lábios nos meus. Agora, sim, entendi o que ele queria dizer e não houve uma maneira melhor de dizê-lo. Agora, sim, entendi o que havia em mim e não houve maneira melhor de entendê-lo. Ficamos naquela cena não sei por quanto tempo, parecia ter durado horas mas, ao mesmo tempo, parecia ter passado em menos de um segundo. Deixei que todas aquelas palavras não ditas por ele fossem faladas agora diretamente nos meus lábios, não só pude ouví-las como também pude sentí-las, e eram lindas, meiguíssimas. Cada letra, mesmo sem ser pronunciada, cravou-se dentro mim, nem elas nem ele sairiam mais.

Nenhum comentário: