segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
(Fernando Pessoa)

Fernando Pessoa, tão talentoso que dividiu-se em vários para que pudesse, assim, organizar-se no seu próprio talento e se autodescobrir. Entrar nas palavras de Fernando é conhecer um outro mundo.
Hoje, dia 13 de junho de 2011, ele completa seu 123º de aniversário.



Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo em todas as suas palavras. Beijos, querida. Au revoir.