sábado, 17 de março de 2012

O autocontrole decidiu partir por um segundo

A simplicidade do momento foi atacada, de repente, pela confusão sem fim.
Ele atordoou os pensamentos da madame, fez que agisse sem pensar, fê-la gritar, sair do sério e até dar uma palmada na sua filha, que agora a olhava com medo do que sua mãe havia se transformado de uma hora para a outra.
Do canto, saiu o narrador-observador que decidiu fazer parte da história. Participou sem palavras. De longe, encarou-a sem pausa. O olhar era tão forte que ela chegou a senti-lo e olhou também. No primeiro, havia um toque de descontentamento, surpresa, repreensão e, ao mesmo tempo, tristeza por perceber o ponto do qual ela havia chegado; nele, havia palavras que nunca poderiam ser ditas oralmente. 
Ela entendeu a mensagem. Sentiu-se surpresa também, e pelo mesmo motivo mas, sobre isso, não conseguiu se expressar ao narrador-observador, que agora se tornara uma personagem, por causa do mundo de sentimentos que carregava dentro dela naquele instante. Somente agora ela havia percebido que num segundo, com a perda de controle que teve, pôde destruir um amor, trazer lágrimas, feridas na alma, palavras duras, frias e tão ácidas que se tornariam inesquecíveis. 
Ele respirou, reviveu o que viveu no segundo anterior, não soube o que pensar nem o que sentir. Não soube como agir. Foi-se embora sem saber para onde estava indo, sabia somente que deveria ir. 
Após vê-lo se distanciando, ela respirou, segurou a mão da filha que agora já parava de chorar e seguiu o seu caminho.
O narrador, ao ver a madame partindo, respirou, deu as costas àquela cena, a mulher e a criança. Assim, deixou de participar, de observar e resolveu narrar uma outra história.

[Por trás da história, uma outra história.]

Um comentário:

Thaís A. disse...

Que bonito... De uma cena tão simples, você pôde transformá-la em algo muito mais sutil e até mesmo misterioso. Gostei demais!

E eu já te disse o quanto eu fico feliz com os seus comentários lá no blog? Nossa, eu fico extremamente contente, tanto que me sinto culpada por não visitar mais aqui (e quase nenhum outro blog), com o colégio e tudo mais, está bem difícil conciliar tudo, bleh, odeio o vestibular!
Mas eu lhe agradeço de coração por suas palavras tão sinceras, de verdade. Me motiva mais e mais a escrever (mas a responsabilidade aumenta também, né?)
Beijão!