domingo, 19 de agosto de 2018

Mas não hoje

Às vezes pensam que podemos viver sozinhos. Erro. Engano. Pautam suas vidas em si mesmos. Num próprio redondo. Círculo fechado. Que se reduz a um ponto. Deixa de ser círculo, deixa de agregar. Finge que agrega. Se fecha, se fecha, se fecha. Se reduz. Vira ponto. E ponto. 
Que tristeza que isso me dá, meu Deus. Diante de todas as possibilidades, diante de todas as pessoas que poderiam estar lá, que estariam felizes se lá estivessem, são todas retiradas. Excluídas. Um abandono. Pelo não pensar, pelo não imaginar. Pelo desconsiderar. As palavras podem vir suaves pela boca, mas no coração é isto. O descuido do dia a dia que leva a frieza que é desconsiderar alguém. Ausentar aquela presença. Silenciá-la. E por que? Por tantos motivos que nem sei. Por tantos, tantos motivos que no final fica nenhum. Eles olham um para os outros, ficam firmes enquanto estão, mas chega um momento, sempre chega esse momento que se olham mais uma vez e não se entendem. E se vão. 
O vazio.
De dentro, na alma, cavado por si próprio. 
A solidão.
Mas não te desejo isso, queria apenas falar. Queria apenas que enxergasse. Que visse. 
Antes.
Antes de piorar. Antes de se arrepender. Antes, bem antes de sentir o gosto amargo da boca que é fazer o mal a si mesmo. E fazer o mal aos que amam. E que sem coincidência, amavam você. Antes até mesmo (nem mesmo) tivesse o tempo de perceber. De mudar. E partisse para a brevitude, em que todos esses complexos se desfazem pelo ar. Vão para onde deveriam ter ido: embora. Seguir um caminho que não fosse junto contigo para que pudesse então seguir o caminho que fosse o teu. 
Tão comum. 
Mas não natural. Não é natural. Não é o curso fluido. É o interrompido, é o interromper. Que em si mesmo precisa de rompimento, ruptura, pra deixar de ser assim. Pra voltar a fluidez. A serenidade. O agito que vem de dentro e não é a energia que devia movimentar. Movimenta, mas paralisa. O final da história é esse. Depende das escolhas. Depende do enxergar. Tudo tão à vista e não visto. Possibilidade de enxergar é todos os dias. Possibilidade de amar. E ser amado muito mais. De se deixar ser amado. Deixar aproximar. Quem assim sentir verdadeiramente. 
Que venha. Que chegue. Que ame. Que viva. 
Que esse seja o curso natural da história. Que não é ainda. Porque hoje não foi. Foi mais uma ferida. Quem não sente sua própria ferida, não sabe que a tem, não sabe cuidar dela e machuca. Mais ainda. Quero fechar a minha. Quero que quem lê feche a sua. Quero que você feche a sua, que não seja no tarde. Vai ver como amanhece. Como o sol surge. Os raios todos amarelos vindo te acender, como nunca. Deixando ainda maior, energia, deixando de ser ponto. Acrescentando seus dias. Um após o outro sendo como um dia a mais. Somando em si mesmo o tanto mais da vida.

Nenhum comentário: