Dezembro chegou e trouxe de presente - antes do Natal - as férias de Pedrinho, que se presenteou com tardes embrulhadas às vésperas do pôr-do-sol entre laços de pássaros e pipas. Sua pipa preferida era a azul "Para combinar com o céu.", pensava. O seu tempo de pipa era precioso e eterno, por menos que durasse até mesmo quando mais queria que durasse. Era sempre eterno. A eternidade vinha vestida do pingo de chuva que ele implorava para não cair entre outros tantos pensamentos, como aqueles repletos de perguntas. Era um acordo, o céu não choraria se Pedrinho chovesse interrogações. E chovia. Era interrogação descendo de cabeça pra baixo, valsando, sorrindo, voando. Era interrogação pra tudo qualquer lado, na nuvem, do peito ao pé. Um dia, reparando sua pipa, começou "Como ela consegue? Como ela consegue ficar, assim, tão pertinho das nuvens? Por que ela não cai? E o que será que segura ela lá em cima? Por que ela não bate numa nuvem e despenca? E se aparecesse uma com formato de dragão e a engolisse?" Arrepiou-se todinho só de imaginar tal crueldade. Olhou em volta procurando urgentemente por algum dragão que estivesse por perto mas, não, não havia dragão. Ufa. Reparando de longe as quatro pontas que sua pipa tinha, outra interrogação nasceu. "Por que ela precisa ter um formato certo? E se fosse em forma de estrela com cinco pontas? E se fosse igual a um passarinho? Árvore? Coração? Riu. Talvez, assim, Luíza comece a gostar de soltar pipa comigo. Ah... Nós dois aqui seria tão bonito, ah..."
Acordou de seu sonho momentâneo, uma outra pipa estava bem próxima da sua. "Como chegou tão...?" Ante que concluísse o pensamento, a pipa intrusa no céu havia cortado a sua e agora era tarde. Perdeu a pipa. Perdeu o sonho com a Luíza. Perdeu as interrogações - do momento -, que se transformaram em ponto final - continuativo. Observou sua pipa partir pelo azul enquanto a rabiola dizia adeus. Foi-se embora para o seu dono novo. "Quem seria? Será um dragão? Ah... Será que vou te ver novamente, pipa?" Sentou-se para assistir a cena que logo, logo acabaria e aproveitou para esperar e se despedir de mais um outro alguém que também se preparava para partir: a tarde. Assim, assistiu a noite mergulhar no dia.
Outras pipas viriam aparecer no céu de Pedrinho. Quanto às interrogações, estas não mais apareceriam porque nunca desapareceram/rão. Elas moravam na sua alma. [Pedrinho seria filósofo, mas ainda não sabia, talvez descobrisse num próximo Natal, como um presente da vida.]
[Presente de Natal ao querido Delvair,
deixou que interrogações criassem raízes em si.
(E ainda distribui mudas por aí.)
Alma grandiosíssima a sua, Del.]
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