segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Lixo vivo


Eu ouvi ela perguntar a mim:
- Laryssa, onde estão suas pastas? Traga-as aqui para que possamos esvaziá-las.
Engoli um seco. E dei graças a Deus por ela não poder ver minha expressão.
- Tudo bem, vou buscá-las.
Ok, para início de conversa, não estava tudo bem. Minha cabeça girava. Eu precisa pensar em algo e bem rápido. Ela não poderia ver minhas pastas, de forma alguma. Lá estavam uma parte de minha vida que ninguém conhece. Era algo pessoal.
Eu guardava meus textos, minhas poesias, minhas histórias, minhas fantasias. Guardava palavras. Muitas palavras e não só minha, mas de outras pessoas também.
Para falar a verdade, eu não ligava para minhas palavras e meus textos. O que me importava era o que eu havia escrito de coração, para alguém muito importante que hoje se  tornou apenas uma forte lembrança, nada mais. E eu não tinha muitas lembranças concretas, apenas aquelas. Eram as únicas.
Ninguém poderia vê-las.
Decidi tomar uma atitude drástica. Foi a única que pensei no momento. Agi.
Um minuto depois me vi tirando todos os papeis que estavam entre os plásticos, meio escondidos até. Segurei-os entre minhas mãos e amacei. Todos.
Parecia estar amaçando uma parte de minha vida.
Aquelas palavras eram doces, relembravam momentos felizes que vivi. Eu estava jogando-os fora, por simples medo.
Eu os amacei. Devagar. Depois corri até a varanda, avistei a lixeira e com delicadeza, joguei minha querida bola de papel dentro.
O meu plano era que ela ficasse lá por um tempo, depois eu a pegaria de volta. Com direito a remexer o lixo e tudo.
Fiz isso.
No outro dia, levantei e fui direto procurar por minha bola de papel.
Ela não estava mais na lixeira.
Parei por um momento. Eu me sentia péssima. Muito péssima.
A lembrança concreta da melhor parte de minha vida havia ido embora. As palavras que nunca foram vistas ou lidas por alguém a não ser eu mesma. Palavras humildes, carinhosas. Palavras de amor. Pura paixão. Palavras que expressavam minha felicidade, que naquela época era denominada de Felipe.
Eu a perdi. Mas ainda as tenho em meu coração. Elas estarão seguras aqui. Estarão guardadas. Eternamente.

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