quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Reticências, segunda parte.

Sentiu o vento que a encontrava pela janela que quebrou todo o seu corpo - agora feito de vidro - ao piscar os olhos de seu sonho acordado. Acordou. Soltou um suspiro preso. Soltou-o ao prender-se, ao prender toda a cena na imaginação... como sempre. 
- Ah... por que é tão difícil?
Voltou ao ponto inicial.
- O quê?
- Nada...
E, de lá, não se moveu.
Não houve mais diálogo. O que existiu depois foi somente olhares presos - e não entre os olhos que se encaravam porque não se encarara - entre as vozes das paredes e das coisas ao redor que criavam vida ao rir da sua falta de coragem, do seu medo de agir. Gargalhavam e agrediam a cada risada solta. Como defesa, ela se fazia de surda, ignorava. Ele não se fazia de surdo também porque não tinha ouvidos capazes de ouvir tais risadas, mas estava se saindo um cego nato, e ignorava. Os objetos ouviam e enxergavam. A vida passava. E era só: passava....
Passou...
Seus sonhos moraram somente dentro dela, coitados, nunca conheceram lugares diferentes, nunca respiraram novos ares que não fossem os de sua mente. Mesmo assim, tinham um bom lar, disso não podiam reclamar. Apesar de serem sonhos nascidos de uma imaginação que não os realizaria, eram bem sonhados. E tinham sorte por isso. O coração sonhador que habitavam era forte e, assim, faziam com que este não perdesse sua força, sua vontade... Não os perdesse agora nem aos outros que viriam. Faziam com que ela não se perdesse. Ajudavam-na sem que percebesse.
Mas esta ajuda muito lhe custou...

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